A doença celíaca é mais comum do que se imagina: de acordo
com os especialistas, muita gente apresenta algum tipo de intolerância ao
glúten, mas sequer desconfia disso. Um estudo da UNIFESP em doadores de sangue
em de São Paulo identificou que há um celíaco para cada 214 pessoas. O cuidado
em identificar e controlar a doença, adotando uma dieta restritiva, é
fundamental. “Quanto mais cedo o paciente descobre que tem problemas para
digerir o glúten, mais chances terá de levar uma vida saudável”, afirma o
gastroenterologista Celso Mirra, da Federação Brasileira de Gastroenterologia.
No Dia Interncional do Celíaco, 20 de maio, ele e outros especialistas no
assunto esclarecem algumas dúvidas sobre a doença.
Trigo, cevada, aveia e centeio ficam fora da
dieta
1. Após iniciar uma dieta sem glúten, a mucosa do intestino
se recupera em quanto tempo?
A gastroenterologista Vera Lucia Sdepanian, coordenadora do
ambulatório de celíacos da Escola Paulista de Medicina da Unifesp, afirma que,
se o glúten for totalmente excluído da dieta, o intestino leva de seis meses a
um ano para voltar ao normal. “No entanto, fizemos uma pesquisa e descobrimos
que cerca de 30% dos celíacos não seguem adequadamente a dieta restritiva”, diz
a gastroenterologista da Unifesp. Esses deslizes podem retardar ainda mais o
tempo de recuperação da mucosa.
2. A doença celíaca traz complicações apenas para o
intestino?
Não, segundo a gastroenterologista Vera Lucia, uma pessoa
que tem a doença e não segue a restrição ao glúten pode ter riscos maiores de
desenvolver vários problemas: osteoporose, anemia, infertilidade, câncer (tanto
no intestino quanto em outras partes do corpo, como no sistema linfático),
entre outros.
Para evitar esses problemas, o gastroenterologista Eduardo
Berger, do Complexo Hospitalar Edmundo Vasconcelos, recomenda ter muita
disciplina na alimentação. “As complicações são gravíssimas e todas
relacionadas à má nutrição, mas só ocorrem em pacientes que não se dedicam à
dieta livre de glúten”, diz.
3. É verdade que alguns medicamentos podem ter glúten?
Sim, embora sejam poucos. “O paciente só terá problemas
quando o medicamento possuir glúten no excipiente da cápsula (material que dá
massa ao medicamento), mas hoje este ingrediente é pouco usado”,
afirma o gastroenterologista Celso Mirra. É importante ficar de olho nos
rótulos, já que as indústrias farmacêuticas são obrigadas por lei a informar na
embalagem a presença de glúten.
4. Com que frequência é preciso realizar exames para
verificar a saúde do intestino?
Uma vez por ano, pelo menos. “É preciso consultar o médico,
realizar exames laboratoriais rotineiros e os testes sanguíneos específicos
para doença celíaca”, afirma o gastroenterologista Celso Mirra. A endoscopia e
a biópsia duodenal são exames feitos quando o quadro clínico da doença se
normaliza, em geral após dois anos.
5. Por que a mucosa intestinal é prejudicada?
Eduardo Berger conta que o paciente com doença celíaca tem
imunidade incompatível com uma proteína presente no glúten chamada
gliadina. “Quando essa proteína é ingerida, uma enzima localizada na mucosa do
intestino chamada transglutaminase atua contra ela, causando uma resposta
imune, ou seja, o próprio organismo forma uma substância nociva, um
autoanticorpo, que atrofia a mucosa intestinal”, explica.
6. É possível ter doença celíaca sem manifestar sintomas?
Há casos em que os sintomas podem ser muito leves e o
paciente mal desconfia que é portador da doença. “O diagnóstico acontece com
uma observação mais rigorosa dos poucos sinais apresentados, como gases,
irregularidade, ainda que discreta, do hábito intestinal e perda de peso pouco
significativa”, afirma o gastroenterologista Eduardo. Sempre que há suspeita, o
médico também deve pesquisar os autoanticorpos específicos da doença a partir
de um exame de sangue.
Exames são necessários pelo menos uma vez por
ano
7. Algumas pessoas podem manifestar a doença só na fase
adulta?
Sim, apesar de aparecer mais em crianças, a doença pode
afetar qualquer idade. Segundo Eduardo Berger, o motivo de algumas pessoas só
descobrirem na fase adulta pode ser a presença de poucos sintomas durante anos.
“Isso faz com que o diagnóstico seja, muitas vezes, feito apenas na idade
adulta, aumentando o risco de complicações”, afirma.
8. Além da restrição ao glúten, é preciso tomar suplementação?
Em alguns casos, sim. A suplementação costuma ser necessária
quando o paciente demora muito para descobrir a doença ou não segue
rigorosamente uma dieta sem glúten. Nesses dois casos, a mucosa do intestino
estará tão atrofiada que terá dificuldades de absorver nutrientes. “O paciente
pode não conseguir absorver, principalmente, as vitaminas B9 (ácido fólico),
B12, D, K e os minerais cálcio e ferro”, afirma Celso Mirra.
A falta desses nutrientes pode provocar anemia, osteoporose,
problemas de coagulação do sangue, entre outros problemas. “A suplementação, no
entanto, precisa sempre ser feita com acompanhamento médico ou nutricional”,
afirma Eduardo Berger.
9. A doença celíaca é hereditária?
Sim. Vera Lucia Sdepanian explica que, para manifestar a
intolerância ao glúten, você deve apresentar predisposição genética. “Se isso
não acontece, há chance mínima de desenvolver a doença e com uma intensidade
pequena”, conta a gastroenterologista. “A proporção encontrada em estudos é de
que 6% dos familiares de primeiro grau de uma pessoa com a doença também
possuem a intolerância.”
10. Mesmo uma quantidade mínima de glúten pode desencadear
complicações?
Dependendo da intensidade da doença, sim. “Há pessoas com
doença celíaca que, se usarem a mesma faca que outra pessoa usou para passar
geleia no pão de trigo, por exemplo, podem ter uma diarréia“, afirma o
nutrólogo Andrea Bottoni, coordenador da equipe de nutrologia do Hospital Villa
Lobos. Por isso, é essencial ter o cuidado de evitar qualquer ingestão de
glúten.
Fonte: Boainformacao.com.br http://www.boainformacao.com.br/2012/05/tire-dez-duvidas-sobre-a-doenca-celiaca/
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